quinta-feira, 3 de maio de 2012

A diversidade cultural e a sustentabilidade ambiental

A cultura material, o saber e a tecnologia, os modos de subsistência, as relações econômicas, as relações sociais e os sistemas de crenças. O recente interesse dos tomadores de decisão pelo paradigma das “localidades” mostra até que ponto as práticas culturais podem contribuir para a revitalização da diversidade biológica, agrícola etc. Contudo, essas duas preocupações – com a diversidade cultural e com as outras formas de diversidade – não sãosempre conciliáveis, como o demonstram os debates que podem surgir localmente em torno da caça de espécies ameaçadas. Dado que as expressões e as práticas culturais estão frequentemente ligadas a certas condições ambientais, as mudanças ambientais de grande amplitude terão necessariamente uma repercussão considerável na diversidade cultural. 

Entre as consequências, poder-se-ia assistir, por exemplo, ao deslocamento maciço de populações, o que constituiria uma ameaça séria para a continuidade e diversidade culturais. Esses efeitos na transmissão da cultura são particularmente sensíveis nas zonas rurais e no seio das minorias, cuja vida depende de um território específico, e que com frequência se encontram já em situações difíceis. A inquietante acumulação de problemas do meio ambiente que ameaçam a estabilidade – para não dizer a existência – das sociedades humanas, teve por consequência uma reflexão sobre os limites de uma resposta puramente técnica e científica ao imperativo ecológico, e sobre as possibilidades oferecidas por uma abordagem centrada no desenvolvimento sustentável, inspirando-se em experiências, intuições e práticas culturais muito diversas.  Urge conceber e promover, em matéria de desenvolvimento, formas de pensar, novos indicadores e novas metodologias, que identifquem quem se beneficia e em quem pode ser excluído do desenvolvimento, e as repercussões deste nas condições de vida humana e no tecido social em que ocorre. A esse respeito, o  Diversidade Cultural da UNESCO e dos responsáveis políticos, contribuiu para tornar mais operacionais certo número de normas e de modelos, com o objetivo de conceder à diversidade cultural o lugar que lhe pertence na concepção, elaboração e implementação dos programas.
Quer se trate da erosão da biodiversidade ou da mudança do clima, a diversidade cultural desempenha um papel fundamental, apesar de ser frequentemente subvalorizada, na resposta aos desafios ecológicos atuais e na promoção de um meio ambiente sustentável. Os fatores culturais têm um papel determinante nos comportamentos consumistas, em valores relativos à gestão de recursos ambientais e nas interações com a natureza, Há muito para aprender no que tange à gestão de recursos ambientais, a partir do saber e dos conhecimentos das povoações locais, rurais ou indígenas, particularmente em termos de estratégias polivalentes de apropriação, de produção em pequena escala, pouco excedentária e pouco consumidora de energia, ou de abordagens conservadoras da terra e dos recursos naturais, que evitam o desperdício e o esgotamento dos recursos. As populações indígenas, guardiãs de milhares de espécies de variedades vegetais e de raças de animais domésticos, têm os meios para desempenhar um papel crucial na procura de soluções para os problemas atuais relativos ao ambiente, mesmo se algumas questões de índole política travaram até agora a sua participação no âmbito do Plano de Trabalho Quinquenal de Nairóbi (2006).

Em conformidade com os princípios da UNESCO, que defende há muito as interdependências dinâmicas entre os homens e a natureza, é cada vez mais aceito que existem vínculos entre a biodiversidade e a diversidade cultural, mesmo que ambas tenham evoluído de maneira distinta. 

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