quinta-feira, 3 de maio de 2012

CAPÍTULO 2: DIÁLOGO INTERCULTURAL

Diálogo Intercultural

Num mundo culturalmente diverso torna-se necessário desenvolver novas visões sobre o diálogo intercultural que superem as limitações do paradigma do “diálogo entre civilizações”. Entre os requisitos para obter esse fim figura a análise sobre as diversas formas pelas quais as culturas se relacionam umas com as outras e uma maior consciência dos valores que partilham e dos seus objetivos comuns, para além de um inventário dos obstáculos a afastar para ultrapassar as diferenças culturais. 

As interações culturais

As culturas não são entidades estáticas nem encerradas em si mesmas. Uma das principais barreiras que dificultam o diálogo intercultural é o nosso hábito de concebê-las como algo fixo, como se houvera linhas de fratura que as separam. Uma das principais objeções formuladas à tese do “choque de civilizações” de Samuel Huntington é que esta pressupõe filiações singulares, em vez de plurais, entre as comunidades humanas e não considera a interdependência e a interação entre as culturas. Descrever como linhas de fratura as diferenças entre as culturas significa ignorar a permeabilidade das fronteiras culturais e o potencial criativo que nelas exercem os indivíduos. As interligações culturais verificadas ao longo da história manifestaram-se em diversas formas e práticas culturais, desde os intercâmbios e importações culturais (a rota da seda, p.ex.) até à imposição de valores culturais por meio da guerra, das conquistas e, mesmo, da colonização. Não obstante, até mesmo no caso extremo da escravatura, produzem-se intercâmbios que, por meio de certos processos concretos de aculturação inversa, acabam por ser assimilados pela cultura dominante. O reconhecimento da natureza universal dos direitos humanos permitiu – pelo menos teoricamente – que hoje se possa pensar em verdadeiros intercâmbios em condições de igualdade entre todas as culturas do mundo. Hoje os processos de globalização contribuem para que se produzam encontros, importações e intercâmbios culturais de modo mais sistemático. Esses novos vínculos transculturais podem facilitar consideravelmente o diálogo intercultural. Repensar as nossas categorias culturais, reconhecendo as múltiplas fontes da nossa identidade, contribui para deixar de insistir nas diferenças e, em seu lugar, prestar atenção à nossa capacidade comum de evoluir mediante a interação mútua. A sensibilização para a história e para a compreensão dos códigos culturais reveste-se de uma importância crucial para superar os estereótipos culturais no percurso do diálogo intercultural.

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