É urgente investir na diversidade cultural e no diálogo. Com efeito, integrar a diversidade cultural
numa ampla série de políticas públicas – incluindo as que estão por vezes bastante afastadas
das políticas culturais propriamente ditas – pode contribuir para renovar as abordagens da
comunidade internacional relativamente aos dois objetivos-chave que são o desenvolvimento e
a busca da paz e prevenção dos conflitos. Com referência ao desenvolvimento, a cultura é cada
vez mais reconhecida como uma dimensão transversal dos três pilares – econômico, social e
ambiental – presentes em todas as formas de desenvolvimento verdadeiramente sustentado.
Relativamente à paz e à prevenção de conflitos, o reconhecimento da diversidade cultural enfatiza
a “unidade na diversidade,” ou seja, na humanidade comum, inerente às nossas diferenças. A
diversidade cultural, longe de ser uma restrição potencial dos direitos humanos universalmente
proclamados, é, pelo contrário, a melhor garantia do seu exercício efetivo, pois reforça a coesão
social e encoraja a renovação de formas de governança verdadeiramente democráticas. Contudo,
isso pressupõe que se refine a nossa compreensão da diversidade cultural e do diálogo. Só assim
poderemos libertar-nos de ideias preconcebidas.
Para uma nova compreensão da diversidade cultural.
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interior das entidades nacionais.
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diversidade cultural está presente em todos os setores econômicos, desde o marketing e
a publicidade até às finanças e à gestão de empresas. A diversidade torna-se um recurso,
dado que estimula a criatividade e a inovação, nomeadamente social, nas empresas. O
reconhecimento dos instrumentos específicos para fazer frutificar a diversidade cultural (a
“inteligência cultural”) é, sem dúvida, um dos sinais mais tangíveis dessa evolução progressiva da percepção que a economia (e o mercado) têm da diversidade cultural.
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Patrimônio Mundial da UNESCO (Afeganistão)
O progresso decorrente das ciências e das novas tecnologias opõe-se à diversidade das práticas culturais. A diversidade cultural não é de forma alguma incompatível com o progresso ou o desenvolvimento. Pelo contrário, a emergência de verdadeiras “sociedades do conhecimento” pressupõe uma diversidade das formas do saber e das suas fontes de produção, que abrangem em particular os h Máscara “Rei Sol” no Brasil 3 Buda do século VI, destruído em 2001 pelo governo dos talibãs na Garganta de Bamiyán, local inscrito no
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preservação da biodiversidade.
. D I V E R S I D A D E C U L T U R A L conhecimentos indígenas que favorecem aA diversidade cultural e a economia seriam mutuamente incompatíveis. Na prática aExistiria uma antinomia entre a diversidade cultural e o diálogo intercultural. Em vez de se ver o mundo como uma pluralidade de civilizações, quer elas se encontrem em conflito (o “choque das civilizações”), quer dialoguem entre si (a “aliança das civilizações”), convém orientar-se para uma diversidade reconciliada, na qual a receptividade ao outro e a sua ressonância produzam a harmonia do todo. A diversidade cultural é condição sine qua non para o diálogo intercultural e vice-versa.A diversidade cultural reduzir-se-ia à diversidade das culturas nacionais. A identidade nacional não existe por si própria: ela representa uma construção histórica, e essa identidade, que pode parecer uniforme na superfície, é na realidade o produto de interações que revelam que cada identidade é múltipla e que a diversidade cultural existe igualmente noÉ precisamente o que o Relatório Mundial pretende fazer, a partir da análise de algumas dessas ideias preconcebidas: A globalização conduziria inevitavelmente à homogeneização cultural. Ainda que seja inegável que a globalização enfraquece, em certos aspectos, a diversidade cultural e conduz a uma uniformização dos modos de vida, de produção e de consumo, é igualmente verdade que ela contribui para uma recomposição da diversidade cultural, a qual se encaminha para novas formas que o presente Relatório Mundial tenta pôr em relevo.
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