Os desafios do diálogo num mundo multicultural
O diálogo intercultural depende em grande medida das competências interculturais, definidas como o conjunto de capacidades necessárias para um relacionamento adequado com os que são diferentes de nós. Essas capacidades são de natureza fundamentalmente comunicativa, mas também compreendem a reconfiguração de pontos de vista e concepções do mundo, pois, menos que as culturas, são as pessoas (indivíduos e grupos com as suas complexidades e múltiplas expressões) que participam no processo de diálogo. O êxito do diálogo intercultural não depende tanto do conhecimento dos outros como da capacidade básica de ouvir, da flexibilidade cognitiva, da empatia, da humildade e da hospitalidade.
Nesse sentido, e com o propósito de desenvolver o diálogo e a empatia entre jovens de diferentes culturas, foram postas em marcha numerosas iniciativas que vão desde projetos escolares até programas de intercâmbio com atividades participativas nos âmbitos da cultura, arte e desporto. Não há dúvida de que a arte e a criatividade dão testemunho da profundidade e plasticidade das relações interculturais, assim como das formas de enriquecimento mútuo que propiciam, para além de auxiliarem a contrariar as identidades fechadas e a promover a pluralidade cultural. Do mesmo modo, as práticas e os acontecimentos multiculturais, como o estabelecimento de redes de cidades mundiais, os carnavais e os festivais culturais podem ajudar a superar barreiras criando momentos de comunhão e diversão urbanas.
As memórias (recordações) divergentes têm sido causa de muitos conflitos ao longo da história. Ainda que por si só, o diálogo intercultural não possa resolver todos os conflitos políticos, econômicos e sociais, um dos elementos-chave do seu êxito consiste na criação de um acervo de memória comum que permita o reconhecimento das faltas cometidas e um debate aberto sobre memórias antagônicas. A formulação de uma versão comum da história pode revelar-se crucial para a prevenção de conflitos e para as estratégias a adotar no pós-conflito, dissipando um passado que continua a estar presente. A Comissão de Verdade e Reconciliação sul-africana e os processos de reconciliação nacional em Ruanda constituem exemplos recentes da aplicação política dessa estratégia de recuperação. A promoção de “lugares de memória” (a prisão de Robben Island na África do Sul, a ponte de Mostar na Bósnia e os Budas de Bamiyan no Afeganistão) demonstra igualmente que o que nos diferencia pode também contribuir para nos unir, ao contemplarmos os testemunhos da nossa humanidade comum.
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