
Os conceitos culturais prefiguram o modo de compreender e de viver a pobreza. Geralmente é a percepção que temos dos pobres ou que eles têm deles próprios que os relegam a situações de inferioridade e que constituem um grande obstáculo à sua autonomia. As diversas visões que existem da pobreza tornam ainda mais difícil a aplicação de uma estratégia de cooperação internacional global nessa área. Porém, a pobreza constitui uma violação dos direitos humanos fundamentais e não se compadece com qualquer justificação cultural (que se lhe aplicaria como marca da fatalidade ou a consequência de uma ordem social predominante).
Em consequência, se examinamos os mecanismos que conduzem à pobreza, com o objetivo de a eliminar com base numa aplicação real da defesa dos direitos humanos, torna-se possível contemplar certas soluções locais, em que as comunidades atingidas podem tornar-se a si próprias em atores de uma saída da situação de pobreza. Certas percepções integralistas que incorporam estratégias culturais e a vontade de compromisso com os direitos humanos contribuem efetivamente para a autonomia e para o reforço de capacidades. No centro dessa visão baseada na diversidade cultural, reside a ideia que as culturas são trajetórias dirigidas ao futuro. Conforme Arjun Appadurai: “precisamos de uma mudança radical na forma de considerar a cultura, a fim de criarmos uma relação mais produtiva entre a antropologia e a economia, entre a cultura e o desenvolvimento, para lutar contra a pobreza. Esta mudança implica posicionar o futuro, e não o passado, no centro da nossa reflexão sobre a cultura”. Do que se trata, pois, é de dar corpo à nossa “capacidade de desejar” e de permitir aos indivíduos e aos grupos serem os atores do seu próprio desenvolvimento. As políticas sociais a favor da diversidade cultural ajudam a aumentar o nível de autodeterminação das minorias de baixos rendimentos ou de baixo estatuto. Para além da redistribuição de rendimentos e da igualdade de acesso aos direitos, a redução da pobreza requer medidas que visem que esses grupos possam desempenhar um papel mais relevante na esfera pública. Quebrar a espiral da pobreza implica restaurar neles a consciência da sua dignidade, o que passa pela valorização do patrimônio imaterial do qual as pessoas interessadas são depositárias.
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